Parece que foi ontem, aquele 16 de junho de
1999, um dia meio frio na capital paulista, não era qualquer dia, o Palmeiras
disputaria o segundo jogo da final da Libertadores em casa. Não tinha ainda nem
completado os 8 anos de idade, mas lembro que estava ansioso pelo jogo, o
relógio demorava uma eternidade, provavelmente não tinha dimensão do quão era
importante ganhar aquele título específico, me alegrava com qualquer título e
naqueles tempos gloriosos, tinha sempre a certeza que no mínimo um título por ano
seria comemorado nas alamedas do Palestra Itália. Mal sabia que aquele não era
só mais um dia de ganhar título, era um dia para a história.
Importante ressaltar
que o Palmeiras já havia disputado outras duas finais de Libertadores, a
primeira em 1961, quando perdeu para o Peñarol do Uruguai e a segunda em 1968
quando perdeu para o Estudiantes, que tinha como craque do time “La Bruja”
Verón, pai do Verón contemporâneo que ganhou a Libertadores de 2009 sobre o
Cruzeiro. Além desse fator, a Libertadores não tinha tantos participantes de
cada país como tem hoje, eram geralmente apenas dois times de cada país, no ano
de 1999 especificamente o Brasil possuía três participantes dado que o Vasco
entrou como campeão da Libertadores do ano anterior.
A fase de grupos
daquela Libertadores passou longe de ser fácil, o grupo tinha Palmeiras,
Corinthians, Cerro Porteño-PAR e Olímpia-PAR. O Palmeiras não fez uma campanha
impecável, alcançou o segundo lugar com 10 pontos, ficando atrás do rival com
12. Mas um fator da primeira fase teria um papel ainda mais preponderante do
que os resultados obtidos dentro da cancha, o goleiro titular do Palmeiras,
Velloso, se machucou em um jogo do Campeonato Paulista, e o seu reserva, Marcos
teve que assumir a meta em um jogo contra o Corinthians ainda na fase de
grupos. 20 anos depois dificilmente alguém assumirá que naquele momento em que
o goleiro reserva teve que assumir a meta, todos temeram que aquele fator fosse
negativamente preponderante.
Vieram os mata-matas,
medo? Temor? Não dessa vez, tínhamos à beirada do campo, o especialista em
jogos decisivos, Felipão, que já havia ganho dois torneio pelo Verdão no ano anterior.
Além do mais, a esquadra parmerista era invejável, Marcos, Arce, Roque Jr., Jr.
Baiano, Júnior, César Sampaio, Rogério, Alex, Zinho, Paulo Nunes e Oséas e se
recorrer ao banco ainda tínhamos Clebão, Galeano, Euller e Evair. Para se ter
uma ideia, do time titular 7 jogadores chegaram a disputar pelo menos uma Copa
do Mundo, sem contar Alex, que era o camisa 10 do time e só não disputou uma
Copa na carreira por injustiças praticadas por diferentes treinadores da
seleção, incluso Felipão.
As oitavas de final
seriam contra o Vasco, atual campeão e com o segundo jogo em São Januário, nem
o empate em São Paulo no primeiro jogo fora capaz de tirar o ânimo e a gana de
vitória daquele time, com um jogo coletivo impecável, o Verdão fez 4 a 2 no Rio
de Janeiro e avançou. Chegaram as quartas-de-final, contra o time do mau, nosso
rival que vinha de um recente título Brasileiro. Uma decisão emblemática pelos
lados verdes, o primeiro jogo uma vitória cirúrgica do Palmeiras por 2 a 0, mas
aquele jogo marcou mais que uma vitória, marcou o nascimento de um Santo. Ali,
Marcos se apresentou ao mundo, foram inúmeras defesas, em chutes de longe,
bolas cara a cara, de longe o grande herói da partida, naquele momento aquele
que ainda tinha desconfiança no arqueiro reserva, não tinha mais. Mas não parou
por aí, no jogo de volta apesar de não evitar a derrota pelo mesmo placar,
começou a mostrar que não era simples bater um pênalti contra ele, Vampeta que
o diga. O Verdão chegava à semi-final.
A semi-final contra o
River Plate era considerada a final antecipada, chavões da mídia para no final
tentar buscar zebras ou dizer que a análise era perfeitamente correta. O
primeiro jogo pode ser considerado um massacre do time argentino, mas Marcos
não cansou de fazer milagres e garantir
que o resultado não fosse pior que uma derrota por 1 a 0. No segundo jogo, o Palmeiras
teve que jogar com metade da zaga reserva, Jr. Baiano e Junio suspensos, deram
lugar a Agnaldo e Rubens Jr. Nada disso foi problema, uma das maiores atuações
daquela Libertadores, sobretudo do Alex, que simplesmente fez chover para
garantir que o sonho da América continuasse vivo no coração de cada palestrino
que lotava as arquibancada do velho Palestra ou que ficava as beiras do estádio
ouvindo o tremor gerado por quem estava dentro. A final viria, pela terceira
vez, e essa seria definitiva na história.
A final demorou a
começar mas enfim, começou. Era necessário reverter a desvantagem do primeiro
jogo que perdemos por 1 a 0. A tensão era latente, não havia uma alma de
coração verde tranquila em qualquer canto do mundo. O primeiro tempo não saiu
do zero, mas algo nos dizia que a América seria nossa, seria àquele dia. Veio o
segundo tempo, Evair foi a campo no lugar de Arce, tinha que ser ele, não
bastou o gol que nos tirou da fila em 1993, Evair entrou para abrir o placar de
pênalti, tal qual em 1993. Pouco tempo depois mais um pênalti, mas para o
adversário, Zapata também guardou. A tensão aumentava mais, mas o nosso amuleto
vindo direto da Bahia voltou a aparecer, Oséas, tal qual em 1998 que fez um gol
espírita para garantir o título da Copa do Brasil, apareceu na área para marcar
o segundo gol, gol que levaria o jogo para os pênaltis, para dificultar ainda
mais, Evair que certamente seria um batedor foi expulso de campo.
Vieram os pênaltis,
ninguém piscava, o Palmeiras começaria batendo e Zinho perdeu. A cada pênalti
mais angústia, pareciam se esgotar as possibilidades de revertemos a
desvantagem, até que o quarto cobrador colombiano bateu o pênalti na trave.
Estava chegando nossa vez, era possível sentir isso. Euller converteu o quinto
para o Verdão, o próximo a bater seria Zapata, se converter vamos para as
alternadas. Lembrei na hora que esse foi o que tinha convertido o pênalti durante
o tempo normal, imaginei que seria o melhor batedor e consequentemente iriamos
para as alternadas. Ali comecei a aprender que qualquer jogador pode errar um
pênalti, principalmente o craque do time. Zapata bateu no canto direito do
Marcos, que pulou para o canto esquerdo, a bola tocou levemente a trave e foi
pra fora.
O histórico Palestra
Itália veio abaixo, os mais de 30 mil torcedores em um estádio que cabia 27 mil
se espremiam para comemorar, lembro bem de quando ver a bola ir pra fora gritar
“É campeão”, e abraçar meu pai. A América era verde e branca pela primeira vez,
há 20 anos se fazia história na Zona Oeste de São Paulo, os gândulas que
durante as cobranças de pênaltis ficavam ajoelhados atrás do meio campo tal
qual os jogadores, foram os primeiros a correr em direção à Felipão para o
abraço do título, a festa era incansável.
O Palmeiras pode não
voltar a ganhar a Libertadores esse ano, como pressinto que ganhará. Mas nada
apaga uma história de glórias, nada tira da eternidade um time que mostrou pra
Libertadores e mostrou pra América o que era Palmeiras.

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