O ano de 1999 parece longínquo,
21 anos e sete meses separam aquele 16 de junho da data atual. Talvez aquela
decisão por pênaltis seja uma das memórias mais vívidas da minha infância. Lembro
de ver o último pênalti do Deportivo Cali passando perto da trave e indo para fora e gritando “É Campeão”.
Mal sabia aquela criança de quase 8 anos, o que de fato significava ser Campeão da Libertadores da América.
| Foto: Staff Images/Conmebol |
Muita coisa aconteceu depois daquilo, talvez aquilo fosse inclusive o momento que marcava o início de uma década e meia de vacas magras, mas estivemos sempre ali. Foi nesse período inclusive que passamos a frequentar com mais assiduidade os jogos do Palestra, seja no antigo e saudoso Palestra Itália, no Pacaembu e por fim o novo e reformulado Palestra, que aderiu às tendência de mercado e passou a se chamar Allianz Parque.
A era iniciada em 2015 de fato
começou com fartura, a Copa do Brasil de 2015 e o Brasileiro de 2016, esse
último após 22 anos, foram conquistas memoráveis. O primeiro não assistimos
juntos porque apenas eu consegui ingresso para a final e no segundo jogo já morávamos
em cidades diferentes e infelizmente estávamos distantes fisicamente no jogo do
título.
Sou grato àquele time de 2016,
talvez mais do que qualquer outro time campeão com as cores do Palestra. Sinto
como se o Palmeiras tivesse lhe presenteado, nos últimos meses de vida, com
aquele título do Campeonato Brasileiro, depois de quase 80 anos de militância
parmerista, nada mais justo que uma conquista dessa magnitude como mostra de
gratidão.
Depois que você partiu no início
de 2017, muita coisa aconteceu. Felipão voltou ao Palmeiras, parece estranho,
eu sei, mas fomos Campeões Brasileiro de novo em 2018, vi o jogo do título das arquibancadas
de São Januário. Já 2020, foi um ano bem atípico, rolou e está rolando uma
pandemia absurda, gente morrendo inesperadamente por causa de uma nova doença e
as coisas estão meio fora de controle, mas não se preocupe, por hora, estamos
todos bem.
No Palmeiras, mais uma coisa
estranha, contratamos Luxemburgo no começo do ano. Como é de praxe quando ele
chega, ganhamos o Paulista, mas ele foi demitido, o time não jogava nada. As
esperanças de título se esvaíam da gente. Mas ocorreram mudanças bruscas, fomos
buscar um técnico português, Abel Ferreira seu nome. Um técnico jovem, que nunca
havia ganhado títulos profissionais, mas promissor e com ideias de jogo diferente
do que habitava a Academia de Futebol até então. Mas o gajo aprendeu rápido
como funcionam as coisas nas Alamedas do Palestra. Nas preleções para o time,
entoa sempre um “Avanti Palestra” para os jogadores antes de subir ao gramado
que a luta o aguarda.
Nunca havíamos tido um técnico
português, no máximo alguns italianos há muito tempo, acho que nem você deve
lembrar. O time mudou da água suja do Tietê para um vinho do Porto da mais alta
qualidade. Até jogadores que pareciam não saber dominar uma bola, passaram a
virar destaques do time.
Com essa reviravolta, chegamos à
final da Libertadores. A final da Libertadores também mudou um pouco, agora é
jogo único e por acaso esse ano foi no Maracanã, próximo à minha nova casa,
apesar da pandemia não ter permitido assistir ao jogo dentro do estádio. A
final foi contra o Santos. Talvez esse inclusive seja um rival que signifique
ainda mais para você, que viveu os anos áureos das Academias com Valdir de
Moraes, Ademir da Guia, Dudu, Levinha, entre muitos outros, os quais tinha o
poder extraordinário da parar Pelé.
A caminhada até a final não foi
simples, especialmente na semifinal, essa foi no sufoco, mas lá estávamos, na final
depois de 20 anos. O jogo da final foi complicado, o Santos tem um tal de
Marinho, joga bem, mas apesar da mídia tratar ele como um Pelé, é só um bom
jogador no melhor ano da carreira dele. Os entendedores de bola, pagos para
falar sobre isso, aparentemente esqueceram que a camisa parmerista já havia
parado Pelé, Pepe e Coutinho. Marinho e Soteldo são apenas jogadores
convencionais que serão esquecidos tão logo pisem fora da Baixada Santista.
A ansiedade para o jogo foi
difícil, durante o jogo também, jogo amarrado como não deixaria de ser. Mas
como alguém certa vez disso, “a final da Libertadores não se joga, se ganha”.
Não sei ao certo quem disse isso, se foi algum jornalista esportivo, se foi a
Clarice Lispector ou Arnaldo Jabour, se não foi nenhum desses, então assumo a
autoria da frase para mim mesmo.
O juiz deu 8 minutos de
acréscimos no segundo tempo, os quais devido a uma confusão em campo se
tornariam 14 minutos de acréscimos. Já estava convicto de que assistiria a uma
prorrogação e eventualmente pênaltis. Mas como se o destino tivesse planejado
tudo em detalhes, aos 99 minutos de jogo, uma bola alçada na área achou Breno
Lopes, um atacante reserva do Palmeiras que chegou há pouco de um time da série
B, e após a cabeçada dele a bola encontrou o gol, a bola abraçou a rede como se
abraçasse alguém que não tinha o prazer de ver há 21 anos.
O jogo acabou logo depois.
Infelizmente não pudemos nos abraçar como em 1999, mas acredito que esteja sorrindo
em algum lugar, afinal, somos Bi-Campeões da América, pai. Caso exista essa
história de paraíso divino que eu sei que você acredita, espero que tenham disponibilizado
um bom telão para você assistir ao jogo. Fica em paz e Avanti Palestra!
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