Amado e odiado, venerado e execrado
Herói e vilão, a vida do goleiro é uma eterna contradição
As traves alviverdes gozaram sempre de paredões intransponíveis, muralhas a defender qualquer ataque contra o exército verde. Os goleiros parmeristas eram divindades inigualáveis, desde um Santo até anjos protetores das redes e dos zagueiros que falham.
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| Foto: Portal Terra |
Mas nem mesmo a linda história de goleiros parmeristas passa impune ao ódio e raiva, aos tiros disparados a esmo na direção daquele herói solitário.
Talvez o mais altruísta dos heróis, afinal está sempre disposto a salvar seus companheiros de batalha, ao passo que não há nada mais que a sorte para lhe salvar de um mero deslize.
De Oberdan Catani a Weverton, como proprietários solenes e solitários de suas posições, até Fabio Cripa e Sérgio, quase que doublés prontos a exercer a função quando o ator principal já não mais tinha pernas e mãos para executa-las.
A lista é ainda mais extensa, quando lembrados Seu Valdir Joaquim de Moraes, o goleiro elástico, aquele em que as mãos alcançavam locais que os livros de física diziam não ser possíveis. Ou ainda Emerson Leão, primeiro guarda-redes parmerista a ganhar uma Copa do Mundo pelo Brasil.
Como bem disse Eduardo Galeano, o goleiro está condenado a esperar entre as três traves pelo fuzilamento e como se não bastasse o risco continuo e iminente de tal disparo, ainda criaram o pênalti, a penalidade que pode ser cometida por 11 mas que alveja apenas um, ele: o goleiro.
As penalidades são o momento de glória ou desprezo, no qual o goleiro espera por séculos de segundos a chegada do seu carrasco. Carrascos esses que variam entre os que tremem sob a possibilidade de erro na execução do veredito e aqueles que caminham para a bola com olhar de cigana oblíqua e dissimulada, prontos para exercer de forma sarcástica e cruel o tiro fatal.
Há ainda os goleiros não corporativistas, ou talvez até canibais, que não relutam em executar a sentença em outro da mesma espécie, como Fernando Prass o fez, no pênalti derradeiro da Copa do Brasil de 2015.
Mas cada sentença não executada pode significar a Glória Eterna, Marcos que virou São Marcos, conhece bem tal história, canonizado aos poucos a cada tiro disparado contra si, mas feridas vem e vão, as conquistas ficam.
O herói solitário parmerista pode até sofrer, mas está sempre sob a perspectiva de entrar para a história. Foi assim que São Marcos, que muitos anos depois, diante de novos pelotões de fuzilamento se recordaria daquela noite (nada) remota de 1999 em que o Palmeiras o levou para conhecer a Eternidade.
Ps: o dia do goleiro é comemorado em 26 de abril como homenagem ao lendário goleiro Manga, ídolo do Botafogo F.R.

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