30 anos do fim do martírio parmerista

     Quanto tempo existe entre o dia 18 de agosto de 1976 e 12 de junho de 1993? 17 anos diriam alguns ou 6142 dias poderia nos dizer um leitor um pouco mais preciso. Para alguns, esse tempo pode não dizer muita coisa, mas para um palmeirense 17 anos sem levantar uma taça é uma eternidade, são eras passando e nada do martírio acabar.

 


  Não se pode dizer que foram anos sem emoção ou sem perspectiva, mas o que significa também que foram anos inglórios para o lado verde. O prenúncio de anos ruins começa em 1978, quando o Palmeiras perde a final do Campeonato Brasileiro para o Guarani, até os dias atuais o Guarani é o único time de uma cidade de interior Campeão do Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, no equivalente às quartas-de-final do Brasileirão, o Palmeiras de Telê Santana, em pleno Maracanã, fez 4x1 no Flamengo de Zico, Adílio e Adão, mas não foi dessa vez que foi campeão.

    A década de 1980, provavelmente a mais sofrida da história parmerista, talvez a mais interminável também. Jornadas sofríveis. Aparentemente os deuses do futebol não estavam do nosso lado. Nem mesmo jogadores notáveis como Jorginho Putinatti e Vagner Bacharel interrompiam a sina palestrina. A bola insistia em não entrar. Nem mesmo uma final de Campeonato Paulista contra a modesta Internacional de Limeira em 1986 interromperia a seca. A sina palmeirense nesses 17 anos parecia ser consagrar o interior paulista: assim como o Guarani foi o primeiro time de interior campeão brasileiro em 1978, a Inter de Limeira seria o primeiro time do interior a ser Campeão Paulista.

    Talvez isso significasse que o Palmeiras não poderia se libertar em um jogo tão modesto, seria necessário um clássico, mas de um de grandes dimensões, o Choque-Rei contra o São Paulo na final do Paulista de 1992 também não seria suficiente. Era preciso um Morumbi com mais de 100 mil pessoas, era preciso um derby contra o rival.

    E não foi um dia qualquer, a tensão na capital paulistana era tamanha, que possivelmente poderia ser vista no ar, cortada por uma faca e alimentado todos os cachorros de rua da cidade. Não havia o que viver além daquele jogo, era melhor não ficar doente, pois o médico não estaria lá, nem mesmo sair para comprar pão, de certo que o padeiro também não estava lá. Tudo que importava aconteceria no Estádio do Morumbi durante 90 minutos com acréscimos e prorrogação.

    Ah claro, o jogo, sem ele tudo que foi dito antes não teria lá muito valor. Apesar de um começo nervoso, aos 37 minutos do primeiro tempo, os astros começam a se alinhar a partir de um chute cruzado do Zinho com a perna direita, no segundo tempo, Evair e Edilson marcam novamente para o Palmeiras: 3x0. Mas o regulamento dizia que aquilo não era suficiente, era preciso ainda uma prorrogação, o martírio era uma estrada sem fim, o final nunca chegava.

     É então no primeiro tempo da prorrogação que Edmundo é derrubado na área e o juiz aponta pênalti. O martírio estaria a um chute do fim, uma geração de pessoas já chegando aos 20 anos poderia pela primeira vez ver o Palestra campeão. Evair então pegou a bola.

    Evair era um exímio batedor, mas nem mesmo o mais confiante dos parmeristas não estaria aflito, com o coração acelerado. Evair então parte para a cobrança. Fatalmente, não partiu sozinho, aquela cobrança foi feita por Evair, Putinatti, Bacharel, Mirandinha, eu, você, 50 mil palmeirenses no Morumbi, 15 milhões de palmeirenses no mundo. O chute então foi dado.

    Aquela fração de segundo entre o chute e a bola cruzar a linha, é sem sombra de dúvidas, a fração de segundo mais longa da história. Há quem diga que durou um piscar de olhos, a quem diga que durou uma vida, mas a maioria diz que durou 17 anos. Era o fim de uma era inglória, era o fim da fila, era o fim do martírio. 

Comentários

Lohana disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Lohana disse…
Que texto poético e emocionado! Até mesmo quem não viveu isso e sequer torce pelo Palmeiras pôde imaginar o que esse jogo representou. 30 anos se passaram e ele ainda habita as memórias mais tensas de todo palmeirense. Me senti transportada para aquele dia, para aquele momento, para o gol que tirou o Verdão da fila. Parabéns pelo texto!